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O artigo, publicado em uma revista muito respeitada no meio médico, está disponível gratuitamente neste link. Resumidamente, foi feito um levantamento retrospectivo das crianças até 9 anos que foram submetidas a cirurgia de amígdala e/ou adenoide na Dinamarca num período de 30 anos.
Os autores do estudo observaram que as crianças que tinham sido submetidas a essas cirurgias apresentaram uma incidência maior de doenças do trato respiratório superior – ou seja, incidência maior de resfriados. Como os resfriados são doenças muito comuns, os resultados mostram que essas crianças tiveram um risco 20% maior de ter resfriados no decorrer de um período de 30 anos que crianças que não foram submetidas a esses procedimentos. Outras doenças também apresentaram prevalência maior nos pacientes submetidos a essas cirurgias, porém com um impacto menos relevante no risco por se tratar de doenças menos comuns. São elas: doença pulmonar crônica, conjuntivite, doenças infecciosas e de pele não especificadas.
Trata-se de um estudo certamente relevante para nós, otorrinolaringologistas, que lidamos com indicações dessas cirurgias diariamente. Como sempre gosto de dizer, cada paciente é único e sempre devemos pesar os riscos e os benefícios de cada procedimento que indicamos – seja uma cirurgia, seja uma remoção de cerume no consultório. Então, sim, precisamos levar em conta esses resultados na nossa prática diária. Mas quanto?
Minha opinião sobre o artigo: trata-se de um estudo retrospectivo, que tem suas limitações, e a seleção dos controles não leva em conta que as crianças submetidas a cirurgia tinham uma condição clínica para tal indicação. O que isso quer dizer? Que não podemos atribuir totalmente as diferenças encontradas ao fato de as crianças terem sofrido uma cirurgia – isso só poderia ser confirmado se pegássemos uma população inteira que tem indicação de cirurgia e operássemos só metade delas: aí sim, no final de 30 anos, as diferenças poderiam ser atribuídas exclusivamente ao fato de a cirurgia ter sido realizada ou não.
De qualquer forma, sempre precisamos estar atualizados e adequar nossa prática diária da medicina às evidências científicas conforme elas vão aparecendo. No último congresso de otorrinopediatria que fui, um palestrante americano comentou sobre um grande estudo randomizado que está sendo feito com crianças que roncam para avaliar os benefícios do tratamento cirúrgico versus observação clínica sem cirurgia. Espero que esse estudo nos ajude a comparar e sempre oferecer o melhor tratamento – pelo menos o melhor tratamento dentro do conhecimento científico que dispomos na atualidade.